Amici Salvate!
Desde 1992 A.D. que visito com alguma regularidade os EUA, nomeadamente a cidade de Nova Iorque, com incidência em Manhattan. A minha última estada, da qual regressei na semana passada, prolongou-se por vinte e dois dias. Não é a primeira nem a segunda vez que fico pelo Mundo Novo três semanas. Não vale a pena ir e voltar a não ser por motivo de força maior, no qual se inclui, naturalmente, o trabalho. Felizmente tenho onde ficar, bons amigos acolhem-me!
Mais uma vez, gostei de lá estar. Porém passou-se uma coisa curiosa. Ao fim de dezoito anos de visitas, os nova iorquinos irritaram-me pela primeira vez (sim, que os californianos irritaram-me logo à primeira, embora tenha insistido uma segunda vez). O barulho do trânsito que eu já conhecia enervou-me sobremaneira, talvez por me lembrar a odiosa, ainda que bonita, cidade onde vivo (Lisboa). As pessoas, reparei que eram, contrariamente à minha opinião anterior, muito mal educadas, para não falar da sua extrema ignorância, maior do que a britânica, que, aliás, espalha os seus malévolos tentáculos de estupidificação das massas aos antigamente sábios países latinos. Relato um curto episódio num autocarro:
Eu ia de pé com um saco na mão esquerda e agarrado à maçaneta do tecto com a mão direita. Embora se guie muito melhor no estado de Nova Iorque do que aqui e os chauffeurs de autocarro sejam muito mais cuidadosos, tive algum medo (por hábito?) de uma travagem brusca e não tirei a mão da dita maçaneta. Espirrei. Coisas que acontecem! Uma senhora, sentada, que ia, foi a falar a viagem toda, ao telemóvel, virou-se para mim e disse: "Cover your mouth". Assim, a seco, sem um "I wish you would...", sem o mero "...please"! Respondi: "You are NOT talking to me!" Ela:" Yes I am", Eu:" Well, I did not hear you!", pausa, continuei "And you are NOT going to lecture me!" Silêncio sepulcral no autocarro. Quanto à senhora, continuou a conversa com a amiga de Harlem.
E confirmei melhor uma ideia já formada, i.e, prestei talvez mais atenção a pormenores como os do atendimento em lojas e em restaurantes. Rareia a despedida, uma vez paga a conta. Nota-se realmente que o fenómeno emigração, com todas as explicações que possa ter, desde as políticas e as amorosas, que compreendo perfeitamente, até às da fome, que compreendo menos porque dá isto, dá a ganância quando se consegue uma bucha; note-se, porque muita gente ficou, não emigrou e sobreviveu, logo, parece-me que quem emigra para fazer dinheiro ($$$) tem mau carácter e o resultado está à vista, tem nome: países novos: EUA, a anterior África do Sul, os anteriores Moçambique, Angola and so on... Mas afastei-me do que estava a contar, desculpem, Amici! Entramos: "And how are you today? [smiles]. Saímos e dizemos: "Good Bye!" Às vezes: "Have a good one..." mas às vezes NADA, já não ouvem, o cliente já não é cliente, já se esqueceram, já passou, já não interessa, "vamos ao futuro, o próximo, a próxima gorgeta!"
Entre os restaurantes e as lojas chiques e os maus só muda a pintura, a fibra é a mesma. Poucos são os bons genes que por ali se passeiam. Há-os! Os dos fugidos a perseguições políticas europeias (normalmente constituídos em artistas) e os de outras partes que ali foram parar com bolsas de fundações de milionários que amavam-a-arte-de-dar-nas-vistas-as-patrons-of-the-arts!
E aqui fica a minha percepção actualíssima de NYC, the Big Apple, com a sua sobranceira grosseria, as suas vaidades, as suas modas e as suas nuances efémeras
: Tribeca hoje (amanhã?)
Have a good one!
Valete
Raulus Antonius