Amici, Salvate!
Andei à procura da cor da música. Qui-la quente, redonda, mas definitavamente clara. Vai bem, para um Bordeaux novo? Tentei esta. Muito carregado. Sugeriram-me azul claro....
As vozes escolhidas correspondem evidentemente a um gosto pessoal, o meu, mas obedecem a um critério. A voz acima de tudo, naturalmente. Naturalmente? Sim, porque há quem, na ópera, ponha os dotes de representação em pé de igualdade, senão acima, da voz...
Eis o critério que aqui está subjacente: a Voz, em primeiro lugar, seguida da sua expressividade e então logo seguida dos dons de palco, no caso da ópera, é claro (às vezes também em Concerto). Nos casos de cantores cujos testemunhos são apenas vocais porque morreram há muito tempo, sigo o registo discográfico da voz, na sua beleza e expressividade, bem possível de se perceber, maugrado a qualidade das gravações do início do século XX.
Joan Sutherland sem dúvida à cabeça a abrir esta parada. Soprano lírico, potentíssimo, capaz de prodígios vocais com a maior naturalidade na aparência. De registo amplo até ao muito agudo, ligeiro, dito cloratura (má classificação, uma vez que coloratura é matização da voz), capaz de expressão dramática mas sempre lírica (Lucia de Lammermoor); Melba, soprano lírico muito potente, voz expressiva. Kathleen Battle, soprano lírico de voz redonda, aveludada, açucarada - um prazer ouvir a sua voz angélica voar por cima das nossos corpos; Valerie Masterson, injustamente esquecida, soprano lírico ligeiro, voz ágil, bela e expressiva. Excelente actriz. Maria Stader, soprano lírico ligeiro, versátil, potente, voz muito agradável. Janet Baker, mezzo capaz de coloraturas com muita bravura; Teresa Berganza, mezzo, capaz de registos mais graves, voz redonda, muito expressiva. Boa actriz. Kathleen Ferrier, contralto, voz que chora "rouca" ao cantar, mas potente, de uma beleza ímpar. Morreu nova.
Pavarotti, tenor lírico capaz de spinto a uma dimensão fantástica. Jussi Bjoerling, tenor lírico com spinto, voz macia; Peter Schreier, tenor lírico com uma voz clara muito ampla; Anthony Rolfe Johnson, tenor lírico de voz potente e cristalina; Guy de Mey, tenor lírico com uma voz dourada no tom; Caruso, tenor dramático com uma voz expressiva; Dietrich Fischer-Dieskau, barítono com uma voz redonda e firme; John Tomlinson, baixo com uma voz profunda capaz de coluraturas com aparente facilidade no estilo e Radu Marian, um jovem sopranista que começou a cantar no século XX. Voz natural de soprano, canta num registo agudo mas simultaneamente quente e doce. Experiência musical a não perder.
Faltam muitos? Faltarão com certeza. Esqueci-me, sem dúvida, de alguns; outros não incluí por não serem do meu agrado, outros ainda estão num limbo mental que não consigo resolver. Repararam decerto que as duas rivais dos anos cinquenta não figuram aqui...
Falem-me dos vossos cantores, gostava!
Valete,
Raulus Antonius