A propósito de um post de hoje, da Rita Ferro, "O acaso é, talvez, o pseudónimo de Deus, quando não quer assinar" (Théophile Gautier), ocorreram-me os seguintes pensamentos:
Assinar ou não assinar, é esta a questão?
A frase é, sem dúvida, muito bonita. Deus assina, mostra, revela, indica...! Inversamente, por um lado, os judeus não podem pronunciar o Seu nome secreto, por outro, os cristãos abusam do "Ai Meu Deus!" E assim temos, muito resumido, o problema de Assinar e de Balbuciar.
Falar das relações teológicas entre o judaísmo e o cristianismo, só será possível num ensaio, longo demais para um blog. No entanto, levanto uma ponta do Véu de Maya. O problema prende-se com o da didícil conciliação da Justiça com a Bondade. Serão porventura compatíveis, como habilmente Santo Anselmo de Aosta quis demonstrar?
Gostariam de dar uma achega?
Não só online, este tópico parece-me demasiado abstracto e vasto para as achegas de que tanto gosto.
Ironicamente, parece-me também, que as pessoas com religião complicariam mais a discussão destes assuntos.
Relativamente à citação, parece-me mais do que iluminada, já que na minha crença pessoal, Deus ou qualquer mecanismo universal que nos rege, faz tudo "funcionar" através de diversas "rodas dentadas", ou seja indirectamente, se me é permitida uma analogia entre o cosmos e o mecanismo interno de um relógio.
Raposo a 6 de Outubro de 2009 às 18:20
Gosto muito do seu comentário do Deus ex machina . Mecanicismo, determinismo, mas por que não?
There's no God. Period.
Carlos Fiuza a 6 de Outubro de 2009 às 18:30
Carlos, que bom ver-te por aqui. Obrigado! Gostava de ter essas e outras certezas. E olha que não pertenço a rebanho nenhum: não sou baptizado!
Boa noite Raúl. A Justiça e a Bondade não têm que ser antagónicas porque nada têm a ver uma com a outra. A Justiça, é a acção de reparar dano, punir responsável, conforme o que a sociedade que a aplica, determinou como punição , reparo ou vigilância , aos valores e costumes adoptados para o societas vivendis. Age no campo do colectivo.
A bondade, é algo pessoal. Tem a ver com a acção do indivíduo, perante si e os outros, no seu viver diário.
A justiça não tem que ser bondosa, tem que ser justiça. Nasce do colectivo, regula-o, normativa-o.
A bondade nasce da acção individual.
Não há justiça boa nem má.
A bondade, é o que ela é: Boa.
alvaro a 7 de Outubro de 2009 às 03:36
Meu caro, referia-me ao problema teológico do castigo e do perdão... Justiça e Bondade EM DEUS!
A ideia de que só se pode negar aquilo que existe, é, com todo o respeito, um absurdo. Neste momento eu nego que exista uma bomba atómica invisível no meu colo, visto que nada me indica que a tenha, e mesmo que não soubesse que a tinha, pois não posso realmente *provar* que não a tenho, negaria a sua existência. Porquê? Porque a teoria do senso comum é comparativamente muito mais plausível...
Não se pode provar um negativo, um negativo não tem suporte, é a ausência.
Ou talvez o seu argumento se prenda com o de Santo Anselmo: Se achamos que existe deus, então isso teve que vir de qualquer lado. Pois veio, provavelmente de alguém com sintomas de epilepsia, ou do desejo humano de ligar causas a efeitos e desejar ter um ente protector:
http://www.youtube.com/watch?v=LNSe4Ff57n4&feature=PlayList&p=0B1C6B69B86553C4&playnext=1&playnext_from=PL&index=30
Quanto aos conceitos de justiça e bondade, deus não é nenhum ente. QUando digo Deus, digo universo, como Einstein. Portanto não podemos nunca saber o que vai na sua mente muito menos que lados toma. tudo isso são coisas que vêm de nós. A justiça e a bondade não são conceitos opostos. Será que é justo matar um assassino com problemas mentais? Será que é justo cortar a mão a um ladrão paupérrimo? Será justo aplicar uma pena igual a quem se tem arrependido dos seus crimes? A justiça pode ser imparcial, mas por vezes pode adquirir nuances daquilo que é a condição humana. A justiça é o bem.
A ideia de que só se pode negar aquilo que existe, é, com todo o respeito, um absurdo. Neste momento eu nego que exista uma bomba atómica invisível no meu colo, visto que nada me indica que a tenha, e mesmo que não soubesse que a tinha, pois não posso realmente *provar* que não a tenho, negaria a sua existência. Porquê? Porque a teoria do senso comum é comparativamente muito mais plausível...
Não se pode provar um negativo, um negativo não tem suporte, é a ausência.
Ou talvez o seu argumento se prenda com o de Santo Anselmo: Se achamos que existe deus, então isso teve que vir de qualquer lado. Pois veio, provavelmente de alguém com sintomas de epilepsia, ou do desejo humano de ligar causas a efeitos e desejar ter um ente protector:
http://www.youtube.com/watch?v=LNSe4Ff57n4&feature=PlayList&p=0B1C6B69B86553C4&playnext=1&playnext_from=PL&index=30
Quanto aos conceitos de justiça e bondade, deus não é nenhum ente. QUando digo Deus, digo universo, como Einstein. Portanto não podemos nunca saber o que vai na sua mente muito menos que lados toma. tudo isso são coisas que vêm de nós. A justiça e a bondade não são conceitos opostos. Será que é justo matar um assassino com problemas mentais? Será que é justo cortar a mão a um ladrão paupérrimo? Será justo aplicar uma pena igual a quem se tem arrependido dos seus crimes? A justiça pode ser imparcial, mas por vezes pode adquirir nuances daquilo que é a condição humana. A justiça é o bem.
GuiMarquito a 14 de Fevereiro de 2010 às 18:05
Caro Gui :
Muitos Parabéns por um raciocínio tão claro e consistente! A Justiça e o Bem são, realmente, quando associados, um problema teológico. É Justo perdoar ao criminoso ou é Bom perdoá-lo? É esta a questão? Apareça sempre por aqui, Raúl.
Quanto à frase do Sr. Guautier permita-me discordar da mesma. Nada acontece por acaso. O acaso não existe. Tudo acontece porque tem que acontecer, e só se torna um acaso porque ainda não temos a capacidade da previsão racional da acção.
Quando a tivermos, deixará de haver o acaso, mas também provavelmente deixaremos de ser humanos.
Quanto à ideia de que não há Deus, eu pessoalmente discordo.Existe, manifesta-se, no nosso colectivo, mesmo que saído da invenção do mesmo. Se o homem o inventou, existe, tal como ele se manifesta das formas conhecidas.
Aliás o Ateísmo , é a maior prova da existência de Deus, senão veja-se:
-Consegue-se negar algo que não exista?
Por muito que tente responder, no final dou de caras com um não.
Só nego o que existe. O que não existe não o nego, pois nem sequer tenho conhecimento que exista, pois a negação da afirmação, só pode acontecer sobre algo que conheçamos.
Esta é a minha humilde opinião.
Abraços
alvaro a 7 de Outubro de 2009 às 03:44
e muito anselmiana, Álvaro!
A ideia de que só se pode negar aquilo que existe, é, com todo o respeito, um absurdo. Neste momento eu nego que exista uma bomba atómica invisível no meu colo, visto que nada me indica que a tenha, e mesmo que não soubesse que a tinha, pois não posso realmente *provar* que não a tenho, negaria a sua existência. Porquê? Porque a teoria do senso comum é comparativamente muito mais plausível...
Não se pode provar um negativo, um negativo não tem suporte, é a ausência.
Ou talvez o seu argumento se prenda com o de Santo Anselmo: Se achamos que existe deus, então isso teve que vir de qualquer lado. Pois veio, provavelmente de alguém com sintomas de epilepsia, ou do desejo humano de ligar causas a efeitos e desejar ter um ente protector:
http://www.youtube.com/watch?v=LNSe4Ff57n4&feature=PlayList&p=0B1C6B69B86553C4&playnext=1&playnext_from=PL&index=30
Quanto aos conceitos de justiça e bondade, deus não é nenhum ente. QUando digo Deus, digo universo, como Einstein. Portanto não podemos nunca saber o que vai na sua mente muito menos que lados toma. tudo isso são coisas que vêm de nós. A justiça e a bondade não são conceitos opostos. Será que é justo matar um assassino com problemas mentais? Será que é justo cortar a mão a um ladrão paupérrimo? Será justo aplicar uma pena igual a quem se tem arrependido dos seus crimes? A justiça pode ser imparcial, mas por vezes pode adquirir nuances daquilo que é a condição humana. A justiça é o bem.
porra, desisto, não consigo por o comentário no sítio certo.
Mas pôs, mas pôs, uma vez que se fala de Teologia. Raúl.