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O HORROR DA CULTURA AMERICANA INSTALADA
Ontem, ao fim da tarde, peguei num livro e fui a pé à baixa. Sentei-me numa esplanada, numa tentativa de combate ao spleen que este Verão me assola mais forte que de costume. Tempo de fazer nada, assusta-me. Este Verão assusta-me mais. São as medidas do governo, são as incertezas duras para todos, duríssimas para quem se reformou. É a necessidade acrescida de produzir, interrompida por auto-disciplina durante um mês no Verão, com o subsequente sentimento de vazio, é a corrida ao Blog. São ainda, pior que tudo, as retracções dos editores, os cortes orçamentais das emissoras, é, enfim, o turbilhão para que fomos, para que o Mundo foi arrastado pela ganância de muitos, para o sofrimento de quase todos. Angústia acrescida da noção de Tempo!
Abri o livro e comecei a lê-lo. No fim do II Capítulo surgiu a palavra mauve. Caí de imediato em daydreaming. Tive saudades, daquelas que doem, dos filmes de há alguns anos, tudo por causa da palavra mauve. Un Taxi Mauve. Lembram-se, Charlotte Rampling, Philippe Noiret, Peter Ustinov…? Ainda estávamos numa altura em que se produzia uma boa quantidade de filmes europeus, calmos, que sabiam fazer sorrir, que nos ofereciam a companhia para casa de uma sensação de plenitude.
Rapidamente, bruscamente num Outono, muito provavelmente, acabou. O mercado americano ocupou, na prática, tudo. As distribuidoras passaram a comprar só o produto americano porque com a concorrência (desleal?) oferecia mais barato e... muito pior. Eram, e são, filmes, que de pleno nada têm. São como canetas descartáveis. Vêem-se, se se tem paciência, esquecem-se, para se ver três dias depois outros iguais com actores semelhantes em cidades semelhantes, com desfeches semelhantes (dois possíveis e só esses).
Os filmes, pelo impacte da imagem, foram sempre um meio muito importante de divulgação cultural, um meio de infiltração do Poder. Há a considerar o aspecto financeiro, mas por trás deste, há, promovido pelo Poder, o veículo de uma ideologia, mesmo que seja a da redução à pizza. Sim, houve filmes americanos muitíssimo bons. Houve. Foram feitos por europeus fugidos a conturbações socio-políticas, quer ocupando o lugar de realizadores ou de produtores quer o de assistentes, de cameramen ou de argumentistas...
Hoje, infelizmente, estamos entregues ao Horror da Cultura Americana Instalada.
Todos estes pensamentos por causa do meu livro; por causa da palavra mauve!
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