Amici, Salvate!
Hoje trago-vos aqui o tema da Educação. Trago-vo-lo de várias formas. De três maneiras que me surgiram hierofanicamente (perdoem-me o exagero) durante estas férias.
I.
No fim de Agosto apanhei um autocarro na Baixa. Estranhamente estava cheio. Com aquelas curvas em que alguns chauffeurs são peritos na imitação de montanhas russas, evidentemente que quem viajava de pé, o meu caso, chocou com os mais próximos. Atrás de mim uma voz feminina e bonita, não jovem, disse imediatamente: "Faça favor de desculpar." Abençoadas palavras! Há que tempos que não as ouvia! Virei a cabeça e, com um sorriso, respondi: "Por amor de Deus, ora essa, com esta velocidade!" Reparei na senhora, modesta, popular mesmo, vestida a condizer, mas com um sorriso franco e elegante. Fiquei feliz. Que palavras! Em vez da horrível e subserviente frase "peço desculpa" (aonde é que a foram buscar? Creio que só a ouvi pela primeira vez há cerca de seis anos), a elegância do "faça favor de desculpar". Ainda poderei aceitar que se possa recear um tom imperativo no seco "desculpe" (embora, particularmente, eu não veja mal nenhum), mas então por que não usar o "Queira desculpar" ou este melódico "Faça favor de desculpar"?
A propósito, "se faz favor" não será muito mais bonito do que o também subserviente "por favor"?
Acabo a primeira parte com um apelo: alguém poderá explicar-me qual foi a origem do medonho "peço desculpa"? Alguma professora primária sádica numa atitude de revanche perante os seus alunos? Resultado do cosmopolitismo? Façam favor de desculpar a minha ignorância sociológica. Bem-hajam!
II.
Ainda sobre transportes.
Ontem no elevador da Glória, cheio o ano inteiro (adivinharam bem, não guio), no meio das fotografias dos turistas, vi que havia um buraquinho para me sentar. A viagem não é longa, mas o bicho não parte minuto a minuto. Por acaso desta vez partiu logo, vá lá adivinhar-se! Bom, voltando ao assunto. O tal buraquinho estava meio ocupado ocupado por uma criança de cerca de cinco anos. Esta já é velha, eu sei, mas aproveito o balanço para exprimir umas reflexões. A mãe, portuguesa pelo aspecto (atenção, os estrangeiros agem da mesma maneira, mas já lá vamos), tinha sentadas uma criança de cada lado. Ficou impassível. Claro, nem reparou. Com calma, eu disse: "Crianças, ao colo, adultos, sentados". Ela não sentou o filho ao colo, mas pô-lo junto à filha, do outro lado.
E eis que chegámos ao busílis. A falta de educação dos pais imputo-a ao Poder. Sim, há umas décadas o que se chama, vulgarmente, o Povo conhecia estas regras. O povo não se distinguia, neste aspecto, da burguesia. Sim, repito, foi o Poder. Porquê? Porque dar muita importância às crianças em detrimento dos mais velhos, através de propaganda constante emitida pelos meios de comunicação, quase todos nas mãos de gente ignorante e/ou mal formada (vendida), torna as crianças egocêntricas e, deste modo, sentindo-se, "senhoras do mundo", ao crescerem não serão revoltadas e acarão dóceis os ditames do Poder. Simples, não? E mais não direi!
III.
A semana passada estive sozinho no Algarve, rodeado por um mar a 25º e por livros, a gozar o prazer da minha companhia. Nadei, passeei e li. Uma noite antes de me deitar, resolvi fazer zapping. Como de costume não havia nada para ver. Parei num canal que não tenho em Lisboa, ITV 1. Estavam a dar um concurso. Como não havia gritos no público e as cores eram discretas, resolvi ver. Uma rapariga estava a ser submetida a perguntas. Sabia tudo sobre programas de televisão e sobre filmes recentes, quem entrava neles, de que ano eram e sobre que eram. A parada subia. Mas chegou a altura em que a pergunta foi: "a tíbia é um osso do braço ou da perna?". R: "I dunno. I'ave to phone me 'usband" Telefonou, usando de um direito que lhe assiste (LOL!). O marido respondeu ao telefone: "I can't help you there Darling". E a concorrente (a propósito, por que é que agora dizem competir em vez do vernáculo concorrer?) desistiu e levou para casa uns milhares.
Outra concorrente. Ainda mais sábia. Tudo sobre nada. E eis que chega a tal pergunta, a única outra cuja resposta eu também sabia. "Qual o país africano berço do pai de Obama?" Percurso semelhante. "Oh Dear, I have to phone my boss, he's in Austria now." Telefonema. "Sorry Sybil, no... I can't help you, no..."
Et sic transit gloria mundi!
P.S. Uma nota sobre os pontos de exclamação. Uso. E também uso a memória. Ao escrever este artigo ou post, se quiserem, lembrei-me da crítica que me foi feita uma vez pela Inês Pedrosa. Disse que eu abusava dos pontos de exclamação! Que tristeza! Uma criatura que escreve com os pés a dar-se ao luxo de tamanha observação! Uma feminista, logo, uma pessoa insegura do seu sexo, que teve o bambúrrio da sorte de ter a passageira projecção por causa do tal feminismo convir momentaneamente ao Poder e à mediocridade dos media, arvorar-se em crítica! "Não vá o sapateiro além do sapato" ou, neste caso, "não vá a formiguinha além da carreira!"
Valete, Amici