
Amici, Salvate!
Hoje não tenho nada para vos dizer, mas talvez seja uma maneira de vos contar alguma coisa. Humm..., olha, lembrei-me: um exemplo da minha escrita de ficção, para aqueles que ainda não tiveram o deleite de a apreciarem (podia dizer LOL ou "risos", mas para quê, para ser o Tartufo, de Molière?) Segue:
- Minha Senhora, chegou uma primita minha da terra. Nunca veio a Lisboa. Posso voltar mais tarde hoje? Bem, ... é que... é que eu gostava de a levar à Comédia para ela ver coméqué.
- E onde vai ficar essa tua prima?
- Em casa da minha tia.
- Qual?
- A do Rossio.
- A que vive nas águas-furtadas por cima da loja de tecidos a metro?
- Sim, Minha Senhora.
- Bem, está bem.
- Muito obrigado, Minha Senhora.
- Olha, vai ao meu quarto e vê se a minha bolsa de cetim está em cima do canapé aos pés da cama. Trá-la.
.... ...
- Estava, estava, Minha Senhora.
- Ai, onde é que pus o porte monnaie? Sim, aquela bolsinha de prata... O lorgnon, a caneta, o pó de arroz, o rouge à lèvres...ah, está aqui! Olha, Cecília, toma lá isto mas não é para gastares mal, é para convidares a tua prima para um café durante o intervalo. E.... não venhas muito tarde. Quero-te aqui às dez horas o mais tardar. E nada de falar com homens. Domingo à noite e, ainda por cima, na Comédia...
- Está bem, Minha Senhora, não se preocupe. A minha prima é idónea...
- Aonde é que foste buscar essa palavra? Por que é que encarniças? O que fizestesss?
- Ai, Minha Senhora, é que eu... é que eu li um bocadinho daquele livro que Senhora está a ler...
- Hum, está bem. Mas devias ter pedido licença. Valeu a pena ter corrigido a tua escrita. Eu trato bem as criadas.
- Eu sei, Minha Senhora. Já estou cá há oito anos.
- És quase como Família, eu sei. Mas falas um bocadinho demais com o moço de fretes do lugar...
- Ai, Minha Senhora, que a minha alma caia já aqui! Eu não sou dessas!
- Bem, mudemos de assunto. E aquele teu tio que tem o restaurante das iscas no Largo da São Domingos, nunca mais ouvi falar dele?
- Ó Minha Senhora, não é que ele andava com duas mulheres ao mesmo tempo!
- O quê?
- Desculpe, Minha Senhora, mas é verdade.
- Não quero que o voltes a ver. Mas... o que é isso tinha a ver contigo?
- Eu sou amiga da minha amiga. A Celeste é boa piquena e ele tinha-le prometido em casamento. Ma s aquela lamb'sgóia da Virgínia quis roubar-le o meu tio Inácio.
-Lambisgóia?
- Desculpe, Minha Senhora, é uma maneira de dizer.
- Está bem, continua.
- Então, eu no Domingo passado, faz hoje oito dias, fui ter com a Celeste e disse-le: Ai Celeste, não é que o Inácio, hein, hein... o Ti Nácio tem outra! Digo-te isto porque sou muito tua amiga. Ai, Minha Senhora, chorou tanto...
- Bem, acho que procedestesss mal, ó Cecília. Quando se gosta de uma pessoa não se faz intrigas. Mas, enfim, tu és uma criada, não podes saber estas coisas. Olha, vai lá, mas volta às dez o mais tardar.
- Obrigada, Minha Senhora.

Sem nada para dizer...?
Valete.
Raulus