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Luísa Rosa de Aguiar, meio-soprano portuguesa, nasceu em Setúbal em 9 de Janeiro de 1753, filha de um professor de música e instrumentista, que passou a viver em Lisboa com a família em 1765. Luísa estreou-se no teatro musicado aos catorze anos, no Teatro do Bairro alto, onde o seu pai trabalhava como músico. Estreou-se no Tartufo, de Molíère. Com uma irmã cantou em óperas cómicas.
Casou-se em 1769 com o violinista napolitano e seu grande admirador Francesco Saverio Todi, que lhe deu o apelido e a fez aprender a canto com o compositor David Perez, Mestre de Capela da corte portuguesa. Deve-se ao marido o seu aperfeiçoamento vocal e a dimensão internacional que a levariam a todas as cortes da Europa. Em 1770 começou a sua carreira como cantora de ópera no Il Viaggiatore Ridicolo, de Giuseppe Scolari, no Teatro do Bairro Alto.
A sua estreia na corte de D. Maria I deu-se em 1771. Cantou no Porto entre 1772 e 1777, quando partiu para Londres para actuar no famoso King's Theatre, o que lhe valeu a aclamação da crítica, ainda que o público londrino não tenha sido muito entusiasta: "Mrs. Luísa Todi possesses high merit as singer and as actress." (A Senhora Luísa Todi tem um grande talento enquanto cantora e actriz.). Em 1778 cantou nos Concerts Spirituels em Paris, seguindo-se Versalhes. Foi considerada a maior cantora estrangeira que alguma vez pisara um palco francês. Em 1780 foi aclamada em Turim no Teatro Régio tendo assinado um contrato como prima-dona. Neste ano já era considerada pela crítica como uma das melhores vozes de sempre. Brilhou na Alemanha e na Áustria em 1781, voltando a Paris para os Concerts Spirituels, onde, desta vez, dividiu o público por rivalizar com a cantora alemã, o soprano Gertrud Elisabeth Mara (1749 - 1833). Mas Luísa Todi saiu vencedora nesta querela, ficando conhecida pelos franceses como "A Cantora da Nação!"
Em 1784 deslocou-se a São Petersburgo, na Rússia, onde deu o seu primeiro concerto nesta cidade com a Armida e Rinaldo, de Giuseppe Sarti. Catarina II-a-Grande, de tal modo ficou impressionada com a voz de Luísa Todi, que lhe ofereceu duas pulseiras de brilhantes. Por sua vez, Luísa Todi e o seu marido Francesco Todi escreveram a ópera Pollinia, que dedicaram à Imperatriz. Permaneceu na corte russa até 1788, acumulando, com o seu mérito, presentes fabulosos de Catarina-a-Grande.
Em 1788 Luísa Todi estava em Berlim na corte de Frederico II da Prússia. No ano seguinte, regressou a Paris para uma terceira temporada dos Concerts Spirituels, sendo aclamada pela crítica como "a maior cantora do seu tempo." Voltou à Prússia umas escassas semanas antes do início da Revolução Francesa.
Em 1790 fez uma tournée pela Alemanha e cantou em Bona onde Beethoven a ouviu. No final do ano deslocou-se a Veneza para cantar no Teatro di San Samuele, na ópera La Didone Abbandonata, usando como adereços um diadema, um colar e brincos de diamantes que lhe tinham sido oferecidos por Catarina II.
Em Veneza a temporada de 1790/1791 ficou conhecida pelo nome de "O Ano da Todi". Infelizmente, durante a estada nesta cidade começou a ter problemas com a visão, facto que a obrigou a deixar o palco durante alguns meses. Escreveram-se, de imediato, poemas em sua honra!
Entre 1792 e 1796 cantou em Madrid no Teatro de los Caños del Peral, mas em Abril de 1793 veio a Portugal. Foi preciso obter uma autorização especial para poder cantar pois nesta altura em Portugal, tal como nos Estados Pontifícios, as mulheres não podiam pisar o palco, deixando, no Teatro, o travestismo aos homens e, na ópera, os papéis femininos a cantores castratti. Em Lisboa cantou por ocasião do nascimento de uma infanta filha do Príncipe Regente, o futuro D. João VI. Como de costume, somos, já éramos, negativos em relação aos nossos talentos, dando o laureato apenas aos medíocres. Esta récita foi insuficientemente publicitada e a Família Real não esteve presente.
Em 1799 terminou praticamente a sua carreira em Nápoles. Regressou a Portugal e cantou ainda no Porto em 1801.
Luísa Todi enviuvou em 1803, vestindo-se de luto até à sua morte, em 1833. Viveu no Porto, onde viria a perder as suas valiosíssimas jóias no trágico desastre da Ponte das Barcas, por ocasião da sua fuga às Invasões Francesas em Portugal pelos exércitos de Napoleão em 1809. Luísa Todi e a sua família foram presos, mas o General Soult, reconhecendo nela "A Cantora da Nação", protegeu-a. Depois viveu em Lisboa, desde 1811 até ao final da vida, parece que com algumas dificuldades e cega. Já em 1823 se encontrava completamente cega.
Morreu no dia 1 de Outubro de 1833, na sua casa perto da Igreja de São Roque, depois de ter tido uma trombose uns meses antes. Foi enterrada no cemitério da Igreja da Encarnação em Lisboa. Este cemitério deixou de existir porque se construíram prédios por cima, na Rua do Alecrim. Apesar da insistência de melómanos e da sua família, a verdade é que uma das maiores cantoras portuguesas de sempre repousa por entre os escombros de uma cave soterrada. Antes de morrer teve a felicidade de conhecer o seu talento imortalizado no livro de Antoine Reicha Traité de la mélodie, onde Luísa Todi é apelidada de "Cantora para a Eternidade."
Setúbal, a sua cidade natal, não a esqueceu tendo-lhe erigido um monumento com a sua efígie e dando o seu nome à principal avenida da cidade e em Lisboa, em 1917, foi dado o nome de Rua Luísa Todi à rua em que viveu nos últimos tempos da sua vida, perto de São Pedro de Alcântara, no Bairro Alto, a São Roque.
A grande Luísa Todi tinha, dizem os testemunhos da época, a capacidade invulgar de cantar com a maior perfeição e expressão em francês, inglês, italiano e alemão, dando uma ênfase extraordinária aos papéis que desempenhava.
Valete.
Raulus Antonius.